O "Anjo de Berlim" (uma sombra auto-retrato da Lourdes feita com o Manuel Zimbro) voou sobre os céus Berlinenses no Natal de 1978. Neste Natal paira sobre um altar numa Capela no Rato em Lisboa ( http://www.capeladorato.org/ ). (faz parte de um ciclo de instalações temporárias impulsionadas por José Tolentino Mendonça e pela Comunidade da Capela). A Lourdes veio para a "inauguração" e conversou com Tolentino Mendonça e Almeida Faria ( que viu o Anjo em 1978 em Berlim, e que escreveu um belo texto sobre o acontecimento: "O Anjo à Janela"). Resta dizer que apesar (ou por) se ocupar de sombras, a presença da Loudes é sempre luminosa e quase imaterial. Leve e afável, como as mornas sombras das plantas. Um bonito e raro momento a guardar.
"Caminhávamos de cabela baixa em direcção a Mariannenplatz quando, ao levantar os olhos, vi um anjo esvoaçando diante das vidraças de um edifício imenso. Ou seria uma sombra? À tarde visitáramos num dos cemitérios de Kreuzberg a campa de Chamisso, autor desse Schlemihl que se excluíra do convívio dos homens por ter vendido a sua sombra a um cavalheiro de casaca cinzenta. Senti um arrepio e olhei melhor. A sombra à janela não era rilkeana, nada tinha de terrífico, de soturno ou sombrio. Era clara e luminosa, talvez uma anunciação. (...)
O enigma estava explicado. Aprendi, a partir de então, a dar mais atenção às sombras, ao que elas encobrem e revelam, não enquanto negativo mas enquanto o outro lado, o lado misterioso da luz, que nelas se revê como num espelho. (...)"
Almeida Faria
The "Berlin Angel" ( a shadow self-portrait by Lourdes made with Manuel Zimbro) flew over the Berlin skies during 1978 Christmas. This Christamas it flows above an altar in a Chapel in Lisbon.
Lourdes came for the "opening" and talked with Tolentino Mendonça and Almeida Faria (who saw the Angel back in 1978 in Berlin, and wrote a beautiful text about the event: "The Angel by the Window").
What's left to say is that despite (or because) she ocupies herself of shadows, Lourdes presence is always luminous and almost immaterial. Light and gentle, like the soft shadows of plants. A beautiful and rare moment to remember.
"We walked facing down towards Mariannenplatz when, looking up, i saw an angel flying on front of an immense building's windows. Or was it a shadow? During the afternoon we had visited in a Kreuzberg cemetery Chamisso's grave, author of that Schlemihl who excluded himself from man's company for having sold his shadow to a gentleman wearing a grey coat. I feslt a shiver and looked better. The shadow at the window wasn't rilkean, had nothing of nightmarish, gloomy or dark. It was white and luminous, perhaps an Annunciation. (...)
The riddle was solved. I learn, since then, to pay more atention to shadows, to what they cover and reveal, not as a negative but as the other side, the misterious side of light, that sees again on them like on a mirror.(...)"
Almeida Faria
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